quarta-feira, 26 de setembro de 2007

NA MÍDIA

devagar, poder público e cicloativistas dão sinais de que a inclusão da bicicleta no sistema viário da cidade pode não ser um sonho (tão) distante

Fernando Donasci/Folha Imagem



marcha dos pedais por Gustavo Fioratti

Por enquanto, é apenas uma fenda, mas que um dia pode chegar a avenida. A tortuosa trajetória das bicicletas em São Paulo passa por um momento importante do caminho. Sob o holofote de eventos como o Dia Mundial Sem Carro (programado para ontem), da recente atenção que o Metrô têm dedicado a ciclistas e da promessa de construção de ciclovias pela prefeitura, peças há até pouco tempo incompatíveis começam a se encaixar. Mas são cacos pequenos de um mosaico que, por ora, está para ser montado.

É um trabalho de pontilhismo, quase. Nasce um bicicletário na zona leste, uma ciclovia na zona sul, um movimento de ciclistas na zona oeste promovendo passeios ou grafitando mensagens pró-bike nos muros e no asfalto, a possibilidade de embarcar com duas rodas em trens do metrô. Conforme vão sendo marcados em um mapa tão extenso como o de São Paulo, esses pontos alimentam as esperanças de quem pedala: o uso da bike pode um dia passar a figurar entre os hábitos do paulistano, a exemplo do que acontece em cidades européias que, neste verão, testemunharam um verdadeiro boom de ciclistas.

Mas, por enquanto, os bikers têm de lidar com uma realidade um tanto -para dizer o mínimo- hostil, de motoristas que ainda enxergam o ciclista como alguém que está atrapalhando o trânsito. Como diz o próprio secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, "para sair de bicicleta o sujeito precisa de duas coisas: direção defensiva e muito bom humor" -haja "humor", aliás, para enfrentar uma frota de carros que, em todo o país, atingiu recorde em julho, com novas 268 mil unidades.

A sugestão de ativistas para sustentar o hábito de andar de bike também prevê uma participação mais ativa da CET-SP, fiscalizando e aplicando multas em quem desrespeite ciclistas. "Mas a CET tem medo de mexer num modelo criado há 40 anos exclusivamente para carros", desfere Artur Alcorta, usuário da bicicleta desde 1978 e ativista desde 82 como autor do site www.escoladebicicleta.com.br.

É na internet, inclusive, que o movimento pró-bike ganha mais volume. Os sites listados na página 11 apontam caminhos novos, denunciam problemas e, antes de tudo, celebram o hábito de usar um meio de transporte barato e não-poluente.

Tudo para convercer mais gente a aderir à causa. E quem faz crescer o número de bicicletas nas ruas em geral não se arrepende. "Consegui agregar qualidade de vida e prática de exercício ao tomar a decisão de usar a bicicleta como meio de transporte", diz o analista de sistemas André Pasqualini, 33, que há um ano e meio passou a ir para a faculdade e para o trabalho pedalando. André foi convidado pelo Desafio Intermodal, corrida que mede a eficiência dos meios de transporte urbanos, para competir de bicicleta.

A possibilidade de tomar banho no trabalho depois de 40 minutos pedalando é um incentivo para André e o empurrão que falta para muitos. Ao trânsito hostil, à topografia irregular da cidade e à violência somam-se também empecilhos mais prosaicos como "não posso chegar ao trabalho todo suado." Mas o que é a instalação de chuveiros em uma empresa se comparada à distante reformulação do sistema viário da cidade?

A seguir, seis passos embrionários que podem ajudar a pavimentar um terreno mais amigável para os ciclistas.

pedaladas

1 Bikes no metrô

Em fevereiro, os vagões do metrô passaram a permitir o embarque de passageiros com bicicletas nos fins de semana. A medida, parte da campanha Ciclista Cidadão (que também inclui a instalação de bicicletários nas estações), foi bem-recebida pelos ciclistas como primeiro passo, mas ainda está longe do ideal praticado em outras cidades. Muitos usuários reclamam das restrições: são permitidas apenas quatro bicicletas por vez e apenas no último vagão de cada trem. Ou seja, além de ter de contar quantas bikes há no vagão antes de entrar, o ciclista precisa esperar outro trem caso a capacidade seja preenchida. Outras queixas se referem aos horários -aos sábados, só a partir das 15h- e à limitação aos fins de semana. "O projeto não considera a bicicleta como possibilidade de transporte urbano, apenas como esporte e lazer", critica Paulo de Tarso, presidente do grupo Sampa Bikers.

Segundo o Metrô, as restrições são determinadas pelo movimento intenso nos dias de semana. Em horários de pico, a instituição calcula até seis pessoas por m2 dentro de cada vagão, o que dificultaria a entrada de bicicletas. "Temos de adequar o uso à nossa realidade. Por enquanto, é inviável permitir [o acesso de ciclistas] durante a semana, e ainda não temos previsão de que isso aconteça, apesar de ser esse também o desejo da Secretaria [Estadual de Transportes Metropolitanos]", diz o gerente de comunicação e marketing do Metrô, Marcelo Borg.

Para fazer uso do serviço, não é necessário pagar nada além dos bilhetes convencionais. A entrada é feita pela porta lateral das catracas. Primeiro, o usuário entra com a bicicleta. Depois, tem de retornar ao saguão, colocar seu bilhete no sensor e passar pela catraca. Não é permitido usar escadas rolantes e, no embarque, o ciclista deve esperar o trem sobre a sinalização com o desenho de uma bicicleta.

Até o mês passado, 12 mil ciclistas haviam passado pelo metrô e 8.000 pelos trens da CPTM.

Horários de funcionamento: sábado, 15h às 20h; domingo e feriados, 7h às 20h.

2 Bicicletários

A principal solicitação de ciclistas ao Metrô são estacionamentos de bicicletas vigiados, onde seja possível deixá-las sem correr o risco de roubo. Por enquanto, há apenas um bicicletário em atividade. Fica na estação Guilhermina-Esperança (linha 3 -Vermelha), zona leste, e sua capacidade, de cem vagas, é atingida quase todos os dias.

Para janeiro de 2008, está prevista a instalação de bicicletários nas estações Carrão e Corinthians-Itaquera, também na zona leste. O funcionamento seguirá as normas do modelo já existente: ciclistas devem apresentar documento de identificação com foto e fazer cadastro. Ao deixar sua bicicleta no local, recebem um comprovante numerado e podem seguir viagem. É gratuito.

"Considero os bicicletários tão ou até mais importantes do que as ciclovias. O sujeito tem que andar 3 km ou 4 km para chegar a uma estação e, às vezes, esse trajeto pode ser feito de bicicleta. O problema é que muita gente que deixa a bicicleta presa em poste, na rua, acaba tendo o selim ou as rodas roubadas", diz o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge.

3 Novos projetos de ciclovias

Divulgação

ANTES:trecho da Radial Leste

Divulgação

DEPOIS:fotomontagem que ilustra projeto de ciclovia para o local

Em fevereiro do ano passado, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) sancionou a Lei nº 14.266, que cria o Sistema Cicloviário do Município de São Paulo. Na prática, pouca coisa saiu do papel. Já existiam as ciclovias das avenidas Faria Lima (1,3 km) e Sumaré (1,4 km), ambas de 1997. Eram as únicas no sistema viário da cidade até 2006, quando a Subprefeitura de Parelheiros tomou a iniciativa de construir uma ciclovia na estrada da Colônia. O projeto, assumido em parceria com a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, previa 4 km de trajeto, mas até hoje foram inaugurados apenas 1,8 km. Em 2007, a prefeitura também iniciou a construção de uma ciclovia na avenida Inajar de Souza (7 km), na Casa Verde. Ainda em fase de licitação, também foi prometida para janeiro de 2008 a finalização do projeto Caminho Verde, na Radial Leste. A prefeitura já liberou R$ 9 milhões para a obra, que deve ter 12 km de extensão. Os recursos incluem a retirada de postes, troca de sinalizações, novo sistema de iluminação com fiação subterrânea, asfalto e pintura, além de tratamento paisagístico.

4 Cicloativismo no asfalto e na internet

Cicloativistas paulistanos tomaram o grafite como uma das principais ferramentas para fazer alarde sobre o o uso da bicicleta na cidade. À exemplo do que fez o grafiteiro Marcelo Siqueira, 29, com suas bicicletas pintadas no asfalto de ruas da zona oeste, outros bicicleteiros estampam, em muros, postes e portões, figuras relacionadas ao uso da magrela, além de mensagens como "vá de bike". Os desenhos muitas vezes se repetem, e há uma porção de modelos pintados por aí. É só prestar atenção. Enquanto esperam pelas ciclovias prometidas, outros ciclistas se organizam para criar passeios em grupo e mapear rotas menos perigosas. É o que está fazendo André Pasqualini, que edita o site www.ciclobr.com.br e que pretende colocar no ar um mapa digital da cidade de São Paulo com as rotas de ruas mais adequadas para o uso da bike. Para a conclusão do trabalho, que André quer disponibilizar em seu site e no portal da prefeitura, foram feitas entrevistas com ciclistas de toda a cidade.

Outros links

www.sampabikers.com.br
www.ciclobr.com.br
www.bicicletada.com.br
www.escoladebicicleta.com.br
www.apocalipsemotorizado.blogspot.com


5 Dia Mundial sem Carro

Já são quase 2.000 cidades em todo o mundo que compraram a idéia de tentar, sempre no dia 22 de setembro, diminuir o uso do automóvel. Tudo começou em La Rochelle (França), em 1997, quando um grupo de ambientalistas se uniu ao poder público para incentivar a população a não usar o carro por um dia. Um ano depois, o Dia Sem Carro teve a participação de outras 30 cidades francesas. Em São Paulo, o projeto foi proposto pela vereadora Soninha Francine (PT) e aprovado pela Câmara em 2005. "Não queremos que isso seja uma iniciativa só do poder público. A lei é apenas uma sugestão de mudança de hábito, e a data pode um dia ser conduzida pela própria população", diz a vereadora. "Espero que, no mínimo, alguém que pegou a bicicleta pela primeira vez para trabalhar possa, num momento seguinte, enxergar o ciclista de outra forma, passar a respeitá-lo mais."

6 Desafio Intermodal

Caio Guatelli/Folha Imagem



É uma corrida para medir a eficiência dos principais meios de transporte utilizados na cidade, realizada desde o ano passado por meio de uma parceria entre cicloativistas e a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Os "competidores" -carro, bicicleta, moto, ônibus, trem e metrô- partem de um mesmo lugar e cronometram a viagem até um ponto determinado. Na última edição, realizada quinta-feira, a largada foi dada na avenida Berrini e a chegada aconteceu na sede da prefeitura, no centro. As bicicletas chegaram em primeiro lugar, e isso já era previsto. Em geral, a bike é um dos meios mais eficientes em dias de trânsito. Dependendo da quantidade de carros, só perde em velocidade para a motocicleta.

"SP: o pior lugar do mundo"

por Roberto de Oliveira

São 5h45 da manhã de um sábado e os primeiros raios do sol começam a alegrar mais um dia no colorido verão da Toscana. O guia Rafael Prieto Martin, 33, já está de pé e faz os últimos ajustes em 16 bikes das marcas Rocky Mountain, canadense, e da italiana Pinarello, milimetricamente enfileiradas, diante da entrada de um hotel-castelo, no alto de um vale.

Durante seis meses do ano, a vida desse jovem espanhol é pedalar por cidades, estradas e vilarejos de Europa, Ásia, África e Américas, acompanhando grupos de ciclistas do mundo inteiro, principalmente americanos.

Rafael já pedalou pelo Brasil. Considera a cidade de São Paulo "o pior lugar do mundo para andar de bicicleta". "Aí, carros, caminhões e vans dominam as ruas. É uma pena", diz. "O trânsito é incivilizado. A frota de motoboys é uma agressão. Não há lugares para estacionar as bikes. O fato de ser grande, repleta de subidas e descidas, não deve ser usado como desculpa", conta.

"Nova York, por exemplo, é enorme, mas os ciclistas são respeitados", diz. Desde 2002, Rafael é guia da Butterfield & Robinson, agência canadense especializada em passeios de bike ao redor do globo. Em média, ele percorre cinco países e dezenas de cidades por ano -sempre de bicicleta.

Dois meses atrás, Rafael fez uma viagem de bike pelo Japão. "Tanto em Tóquio como no interior, os motoristas, inclusive os de caminhão, são extremamente respeitosos com os ciclistas." Para ele, porém, nenhum lugar do planeta reúne tanta consciência pró-bike quanto a Europa. Berlim é a sua favorita.

"A cidade está tão bem preparada e consciente para receber e incentivar o ciclismo... Lá, a população aprende desde criança a valorizar o transporte de bicicleta. E os motoristas reconhecem os ciclistas como parte integrante da cidade, não como concorrentes."

Rafael conta que, além da Alemanha, na França e na Espanha, há um forte movimento a favor da bike, que virou febre no verão. "A bicicleta integra as pessoas, fortalece a convivência urbana e, de quebra, não polui. É o transporte do futuro."

10 mandamentos para ciclistas de qualquer viagem

por Paulo de Tarso e Renata Falzoni

Está com pressa? Vá de bike
Seja visto. Fique na moda! Use sempre roupas leves, mas que chamem a atenção
Tá pedalando sozinho? Cuidado para não ser assaltado! O negócio é pedalar em grupo
Capacete e óculos contra a poluição não servem só como um charme extra. Proteger a cabeça e os olhos é essencial
Ficar a pé por acidente é mico. Tenha sempre uma câmara-de-ar reserva, uma bomba para encher pneus e chaves compatíveis com a sua bike
Sentiu que os motoristas não estão lá muito amigáveis? Pedale na calçada. Mas respeite os pedestres! Não seja você o agressor
Metrô só pode no fim de semana, e, mesmo assim, você tem que aguardar a sua vez se outros quatro ciclistas estiverem na frente. Paciência, respeite as regras
São Paulo tem ruas dignas de competição de mountain bike. Compre uma magrela mais forte, que agüente o tranco
Fique à direita. Se ali você já corre riscos, imagine no meio da pista
Vai ao shopping? Ao cinema? Ao banco? Tenha amigos em todo lugar. Eles te ajudam a guardar sua bike

vou de bike

Beatriz Toledo/Folha Imagem



O sapato de salto que a consultora financeira Maria Tereza Murray, 60, usa no trabalho é carregado dos Jardins até o Itaim, toda manhã, dentro de uma bolsa. "Para pedalar, tem que ser com sola de borracha", diz ela. "Quando chego lá, é só trocar."

Sem pressa nenhuma, diz que só pega vias secundárias e ruas arborizadas. Vai ultrapassando as fileiras de carros e vê "todo mundo estressado ficar para trás".

Tereza faz o mesmo percurso de bicicleta há mais de três anos, diariamente. "Quando vou de carro, sempre me arrependo. De bicicleta, além de ir mais rápido, tenho mais contato com a rua, presto atenção nas pessoas, nas vitrines, nas casas", diz.

o autor das bicicletinhas

Tuca Oliveira/Folha Imagem



Grafitar a figura de bicicletas em muros já era uma forma alternativa de defender as magrelas, mas o grafiteiro Marcelo Siqueira, 29, descobriu que podia incrementar seu ativismo criativo. Bastava transferir os desenhos da parede para o asfalto.

Depois de grafitar mais de cem bicicletas nas ruas da zona oeste, o artista acabou criando falsas ciclofaixas, principalmente em ruas de Pinheiros e nas avenidas Sumaré e Henrique Schaumann. Bem-humorado, conta que ele próprio já ligou para a CET, agradecendo a "nova sinalização". "Disseram que iam registrar meus comentários", diverte-se.

Os desenhos das bicicletas, em linguagem muito próxima da que é usada na sinalização de trânsito, são sempre pintados na faixa à direita, como se cobrassem o que, por lei, já é garantido a ciclistas. À direita, bicicletas têm preferência sobre carros e, segundo o Código de Trânsito, deixar de guardar a distância lateral de um 1,5 m ao passar ou ultrapassar bicicletas é ação considerada infração média, com possibilidade de multa.

Há relatos de casos de motoristas e ciclistas que mudaram de comportamento ao passar pela falsa sinalização grafitada por Marcelo. A vídeorepórter Renata Falzoni, que apresenta o programa "Aventuras com Renata Falzoni", da ESPN-Brasil, conta que, em uma disputa de espaço com um carro, na avenida Henrique Schaumann, apontou para uma das bicicletinhas pintadas no asfalto. "O motorista logo cedeu, pedindo desculpas", diz.

A cada temporada, um número maior de ciclistas é interligado ao sistema de transporte público das cidades européias, que vivem a febre das bicicletas. No verão deste ano, os governos estrearam novidades no sistema que coloca bikes públicas à disposição de quem quiser.

François Guillot/France Presse

Ciclista nas ruas de Paris, cidade que utiliza bikes interligadas ao transporte público

o verão das bikes (ao menos na Europa)

FRANÇA
O hit do verão parisiense é o Vélib, sistema de transporte público de bike que começou a operar no dia 15 de junho, 24 horas por dia, sete dias por semana. Serão cerca de 20,5 mil bicicletas rodando pela capital francesa até o final do ano em 1.500 pontos, todos colados a estações de ônibus e de metrô. O ciclista deve preencher um longo formulário e mandar para os postos de atendimento. Cerca de 1,2 milhão de ciclistas aderiu ao sistema. O interessado deve pagar uma taxa de 29 euros, o que lhe garante 30 minutos grátis de bike. A primeira hora excedente custa 1 euro, a segunda, 2 euros, e as demais, 4 euros cada uma.

ALEMANHA
Na precursora do movimento pró-bike -não à toa, Berlim é considerada o melhor lugar do mundo pelos ciclistas-, cidades como Berlim, Frankfurt, Colônia, Munique, Stuttgart e Karlsruhe operam um sistema em que não há, ao contrário das outras cidades européias, estações fixas para pegar ou largar a bike. Para locar uma bicicleta, é necessário um registro. A cada locação, o ciclista entra em contato com a central para adquirir uma senha e liberar a bicicleta. Cadastrado, pode deixá-la onde bem entender. Deve digitar no seu celular um código que bloqueia a roda traseira do veículo. Quem for usar na seqüência solicita o código na central e digita o número numa tela de plasma (sim!) na própria bike, o que irá destravá-la. Basta sair livremente pedalando. O preço é calculado de acordo com o tempo de uso (em minutos), apesar de haver tarifas promocionais para tempos maiores. A adesão sai por 5 euros. São cobrados oito centavos de euros para cada minuto, 15 euros para 24 horas ou 60 euros para uma semana.

ESPANHA
O Bicing começou a funcionar em março em algumas cidades espanholas. Nem mesmo a topografia irregular de Barcelona, com subidas, descidas e ruelas tortuosas, impediu que bikes de três marchas, vermelhas e brancas, ganhassem as ruas da cidade catalã e virassem coqueluche. O interessado se inscreve pela internet, passa o número do cartão de crédito e recebe um cartão de acesso pelo correio. Paga uma taxa anual de 24 euros por percursos de até 30 minutos. Até agora, cerca de 100 mil moradores se inscreveram -sendo que 20 mil deles fazem uso diário.

Onde dói mais

Ilustração Teresa Berlink



por Duilio Ferronato

Já houve épocas em que um sujeito levava seu caixote, subia e fazia um discurso. E as pessoas prestavam atenção. Muitos morriam por causa disso, mas falavam mesmo assim.

Hoje, não é possível nem imaginar uma manifestação sem bloquear os meios de transporte. Bin Laden não saiu na frente, mas, certamente, foi a demonstração mais impressionante até agora -e usou o meio de transporte que mais dá medo.

Outro dia, um amigo disse que viu um homem se jogando nos trilhos do metrô com uma faixa: " Estou desempregado". Disse que esse tipo de notícia nunca é divulgado porque o metrô costuma abafar... Fiquei um pouco na dúvida. Mas os guardas do metrô reprimem qualquer um que queira tirar fotos dentro das estações, então fica difícil ter certeza. Será que eles não foram avisados de que a ditadura militar acabou? Que essa é uma lei capenga? Mas leis capengas relacionadas aos meios de transporte é o que mais temos. Você sabia que não se pode fotografar estações de trem e nem aeroportos? A explicação, lá da era mesozóica, é que seria uma questão de segurança nacional. Que ingenuidade!

Bem, de qualquer forma, uma manifestação, para ter resultado, precisa afetar um meio de transporte. Você já viu protesto de professores mal pagos? Eles sempre vão para as grandes avenidas e param o trânsito. Por que não vão para o sambódromo? Lá, claro, ninguém ficaria sabendo e, se ninguém ficar sabendo, o governo não tem obrigação de atender. Então, obviamente, tem de ser feito onde dói mais. Que é nos transportes.

Quando uma pessoa quer ir para algum lugar, não admite atraso. E logo usa a velha frase: "É um absurdo!" Virou moda falar isso um pouco antes de ter um chilique no check-in da TAM. As moças já têm até uma resposta pronta para quando alguém ameaça usar o chavão: "A senhora é uma passageira especial, e faremos tudo para atendê-la o mais rápido possível". Como todo mundo quer ser especial e acredita ser, acaba caindo nessa conversa, por algum tempo.

Só os alunos das faculdades é que ainda não entenderam muito bem que manifestações têm de ser feitas nas ruas. Não adianta muito invadir reitorias nem prédios da faculdade, isso é um sistema muito antigo. Viu no que deram as últimas invasões? Acabaram levando cacetada na cabeça e não conseguiram muita coisa. Se tivessem bloqueado a rua, a história teria sido diferente, teriam levado porrada também, mas teria sido mais suave e talvez tivessem conseguido um pouco mais rápido o que pediam.

Por que o trânsito se tornou tão importante em nossas vidas? Deve ser porque pouquíssimas pessoas moram perto do trabalho e têm de fazer verdadeiras viagens diárias.

Ontem, 22 de setembro, foi o Dia Mundial Sem Carro. Se a data pegar e chegarmos a um Ano Sem Carro, onde vão acontecer as manifestações?

Um comentário:

Fourier disse...

Gostei da matéria ainda bem que vc divulgou.

Abs