terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Uma Lenda

Imagem: 17/02/2008

A Lenda da Nuvem Branca do Jaraguá

O Jaraguá é o marco da desobediência ao tratado de Tordesilhas, que delimitava as fronteiras do Brasil. É o símbolo do bandeirismo expansionista. Uma página da história do Brasil, um marco na imensidão do nosso país. O Pico do Jaraguá, “Senhor dos Montes”, via passar ao seu sopé os caminhos que conduziam primeiro os índios, depois os bandeirantes pelo Brasil.

Descendente do bandeirante Bartolomeu Paes de Abreu e da linhagem do Pedro Taques, o saudoso Acácio de Villalva narrou esta lenda que ouviu seus antepassados contar, tradição guardada em família através de várias gerações. A casa em que ele nasceu era onde está o monumento a Pereira Barreto, na praça Marechal Deodoro. No vasto e solarengo casarão que ali existia, cercado por palmeiras imperiais, do terraço voltado para o poente via-se o morro do Jaraguá – sentinela vigilante dos fastos paulistanos.

Ao entardecer, quando o sol se punha por detrás do gigante, lá no horizonte, na hora da Ave-Maria, a família reunida no confortável alpendre rezava com as vistas voltadas para o Jaraguá.

À oração vespertina muitas vezes ouvira a narração avaramente guardada pela família paulista quatrocentona – a nuvem branca do Jaraguá. Quando de São Paulo partiam as bandeiras sertão adentro, por dois ou três dias, ainda conseguiam avistar o Jaraguá.

Então as mães, esposas e filhas que tinham seus filhos, maridos e pais nas bandeiras, subiam até o pico do Jaraguá e, de lá, com lenços brancos ou lençóis amarrados a guisa de bandeira, acenavam ao que cada vez mais se distanciava. Era o adeus!...

Quantas lágrimas derramadas naquela escalada, quanta esperança não se tornava em desespero, após esta última despedida. Agora, quando uma nuvem branca aparece cobrindo o cimo do Jaraguá, em dia de céu límpido, é a alma daquelas que morreram de tanto esperar e ali volvem para a despedida final.

A nuvem branca é a soma de milhares e milhares de gotas de lágrimas derramadas pelas que foram dizer adeus ao bandeirante que partia para prear índios, buscar ouro, alargar as fronteiras do Brasil. E hoje, mesmo que seja lenda, a verdade é a que, em maio, mês em que as bandeiras partiam, embora o céu esteja todo cor de anil, lá em volta do pico do Jaraguá existe uma nuvem branca recontando o passado glorioso dos paulistas – é a Nuvem do adeus!...

Texto de Alceu Mayard Araújo (Brasil: Histórias, Costumes e Lendas, vol 11. São Paulo, Ed. Três. s/d)



Sábado, às 07h, uma subida...Vamos conferir a lenda.


-.-.-.-.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tonico!!!!
Isso me fez lembrar daquele projeto hiper legal que fizemos no Arte, há anos trás!
Que delíciaaaaa!
Beijoca