terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Que Geografia


O Professor Aziz Ab'Saber, uma dos maiores geógrafos brasileiros, em julho concedeu uma entrevista para a Revista Fórum, em que criticava o relatório do IPCC sobre o aquecimento global: “Não sabem nada, são pessoas da Física, engenheiros e outros. Não dá para confiar neles”.

Em dezembro, um artigo sobre o Uso das bicicletas na cidade de Ubatuba ( veja abaixo), na revista Scientific American. Na lista de discussão da bicicletada de SP, muita crítca. O que proponho:

- Visitar o Prof° Aziz, e expor nossos argumentos sobre o uso da bicicleta em nossa cidade.
- Aproveitar o momento e entregar uma cópia do Documentário, Apocalipse Motorizado; Legislação paulistana sobre o sistema cicloviário; textos e entrevistas.

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O PAPEL SOCIAL DAS BICICLETAS

O uso do veículo em Ubatuba promove uma atmosfera urbana educada e estimulante

por Aziz Nacib Ab`Sáber


O uso habitual e generalizado da bicicleta em uma cidade qualquer depende de alguns fatos essenciais. Num lugar prioritário entra a questão das características morfológicas do sítio urbano, onde a cidade estabeleceu sua estrutura de ruas, praças e tentáculos.

Cidades nascidas e crescidas em rasas planícies de restingas propiciam o uso mais amplo de bicicletas, engendrando um papel social que raramente tem sido registrado. Por sua vez, cidades implantadas em regiões acidentadas, desenvolvidas espacialmente em encostas de morros, morrotes e colinas, têm grandes limitações para o uso mais amplo de bicicletas. É o caso dos organismos urbanos estendidos por colunas onduladas possuidoras de rampas e ladeiras como alguns dos pontos tradicionais, que perderam a chance da utilização mais intensa dos biciclos. Ainda que pudessem ter ciclovias de uso parcial, limitadas a setores mais planos de seu sítio urbano, como planície e terraços fluviais. No caso, torna-se inoperante a pressão de pessoas simplórias e da mídia na defesa de um sistema urbano de ciclovias. Tendo-se de considerar sempre para as grandes cidades o problema da intensidade do emaranhado de veículos de toda sorte. Não é preciso dizer que estamos pensando no caso da Grande São Paulo. Nessa conjuntura, o uso da bicicleta em redes mais amplas é praticamente impossível.(Grifo nosso).

Bons exemplos de cidades situadas em planícies acontecem ao longo da costa brasileira, ao fundo das enseadas e de baías. Enquadram-se nesse tipo Recife, Aracaju, Ilhéus, Vitória e Campos. Mais para o sul, há ainda Ubatuba, Bertioga, Praia Grande, Itanhaém, Peruíbe, Paranaguá e Itajaí. Bem mais para o sul, Tramandaí, Pelotas e Rio Grande. Por razões muito particulares, é digno de considerações mais específicas o caso mais impressionante do papel da bicicleta na região de Ubatuba.

Observações prolongadas sobre o uso da bicicleta na cidade de Ubatuba demonstram o extraordinário papel social que ela desenvolve em uma pequena cidade praiana no litoral norte de São Paulo. Percebe-se de imediato que, independentemente do caráter sazonal que marca a dinâmica da vida urbana citadina, o uso dos biciclos é absolutamente permanente no cotidiano de Ubatuba. Os que vêm de fora são obrigados a usar automóveis para chegar, transitar e participar das oferendas paradisíacas da paisagem costeira. A disputa por estacionamento nas avenidas praianas, no distrito central de comércio, ou nos supermercados e shopping centers documenta o uso dos espaços urbanos por aquela parte da população que vem de centenas de quilômetros de distância. Incluindo, no caso, as pessoas que possuem apartamentos ou moradias na cidade ou seus arredores.

O caráter principal do uso das bicicletas está relacionado com uma movimentação que envolve, sobretudo, os adolescentes de ambos os sexos. Rapazes e moçoilas de todos os quadrantes vêm para o centro da cidade e percorrem a beirada da praia, compram mercadorias singelas. Dirigem-se ao banco para pagar dívidas. Tomam um café ou um suco barato em bares previamente conhecidos. Compram cadernos e materiais escolares em papelarias. E se encantam com as lojas de brinquedos e quinquilharias. Encostam as bicicletas nos raros bancos e nas calçadas. São pequenos esforços, e funcionam para guardar as bicicletas no centro da cidade. Falta dinheiro para pagar as contas, mas eles exibem saúde e alegria pelo exercício da pedalagem nos biciclos.

Ao cair da noite, as casas mais simples dos moradores de Ubatuba, no centro expandido – bairro do Perequê-Açu –, permanecem escuras e com pouca presença humana. Muitas mães usam o ambiente das igrejas para passar algumas horas fora de casa. Enquanto os jovens – moças e rapazes – circulam à noite como se fosse de dia. Não existe qualquer perigo de assalto ou agressão. Ao atravessar o movimentado calçadão do centro, educadamente todos descem do biciclo, empurrando calmamente o veículo até o reencontro de ruas e ciclovias. Assim, Ubatuba tornou-se uma cidade que não é só para homens. E sim um mundo urbano educado e estimulante para as mulheres.

É verdade que as pessoas de mais idade – e as gordas e obesas – mal usam a bicicleta, mas predomina por todas as ruas, avenidas e setores de rodovia o uso estimulante e social do veículo. Para os jovens, incluindo rapazes e moças, cria condições saudáveis e de excelente uso da liberdade pessoal.


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