Revista Carta Capital, acesso em 18/09/2007
Paris quer oferecer 21 mil bicicletas em 1,5 mil estações de metrô e reduzir o tráfego de carros
Gianni Carta
Pedalar, pedalar, pedalar. Eis a nova revolução urbana, iniciada, em grande escala, em Paris, neste domingo 15. Nada menos que 11 mil bicicletas disponíveis em 750 estações, espalhadas pela capital. O objetivo do prefeito socialista, Bertrand Delanoë, é oferecer cerca de 21 mil bicicletas em 1,5 mil estações, a escassos 300 metros uma da outra. Ou seja, cinco vezes o número de estações de metrô, esta uma das redes mais densas – e eficazes – do mundo.
Certamente, a capital das luzes, com base em esquema implantado em Lyon com grande sucesso, será o modelo futuro para outras cidades que dependem, em demasia, do automóvel, esse meio burguesote, e poluente (ainda mais em pequenas distâncias). Além disso, o carro é completamente desnecessário em cidades bem delineadas e com meios de transporte invejáveis, com ônibus com ar condicionado, metrô cobrindo toda a região, caso de Paris. Para vários cidadãos, o carro é o meio de transporte que ainda confere liberdade de movimento.
Mas há outros?
Certamente, se você não vive em São Paulo ou em Los Angeles.
Peguei minha Vélib (vélo, ou bicicleta, e liberté, liberdade, produzida pela JCDecaux, na Hungria e em Portugal) em Châtelet, centro de Paris. Rumei para a Place d’Italie, a oeste, em 25 minutos. De metrô, o tempo seria o mesmo. Num automóvel, levaria mais de 40 minutos, segundo estudo da prefeitura de Paris. Preço do Vélib, naquele trajeto: zero. Por semana, o usuário da Vélib desembolsa 5 euros por um passe, e 29 euros pelo ano. Paga-se via internet, ou nas estações de bicicletas. Caso a viagem ultrapasse 30 minutos, a meia hora adicional custa 1 euro, e 2 euros na meia hora seguinte. A partir da terceira meia hora (sem devolver a bicicleta), são 4 euros por meia hora suplementar. Mas é possível entregar uma bicicleta, esperar alguns minutos e pegar outra, sem nenhum custo extra.
A idéia de não ficar com a mesma bicicleta, por mais de meia hora, é democrática. Caso contrário, ela não poderia passar para outro usuário, em tempo curto, e poderia haver gente sem acesso a esse civilizado meio de transporte. Em Lyon, uma mesma Vélib é alugada por mais de dez pessoas ao dia. Perigo de roubo? O ciclista paga uma caução de 150 euros. E, assim, retorna-a a uma das inúmeras estações de bicicletas.
No final das contas, chapeau para Delanoë. Em Londres, Ken Livingstone impôs o sistema de pagamento de diária para quem quer ir, de carro, ao centro de Londres. Deu certo. Mas custa. Quem continua rumando ao centro, de automóvel, paga não somente o preço imposto por Livingstone, mas também o estacionamento, o jantar, o teatro. Uma soma considerável para o casal que pretende ver um musical. Delanoë, mais astuto, fez o contrário. Estreitou ruas e avenidas, construindo ciclovias. Em vez de fazer o motorista pagar, o desencoraja a sentar atrás de uma direção.
Desde que assumiu a prefeitura, em 2001, o prefeito parisiense ofereceu nada menos que 200 quilômetros de ciclovias (alguns trechos são também destinados aos ônibus) espalhadas por Paris. Claro, alguns fanáticos do carro acusaram Delanoë de provocar ainda maior congestionamento.
O objetivo é tornar Paris mais verde e saudável. Até 2008, Delanoë pretende duplicar o número de ciclovias. E até 2020, o objetivo é reduzir o tráfego de automóveis em 40%.
Nem sempre é fácil se locomover de bicicleta. Este escriba viu, no domingo 15, vários motoristas irritados com a lentidão de alguns ciclistas em faróis, inclusive nas vias ditas “verdes”, abertas para ciclistas, mas, por vezes, a taxistas e motoristas de ônibus. Isso porque alguns ciclistas são lentos e a Vélib, como me disse Marine, de 25 anos, “é ótima, mas com três marchas fica difícil pedalar nas subidas mais íngremes”. Contudo, a relação entre motoristas e ciclistas, dizem experts, é questão de tempo. Segundo um estudo, “quanto mais bicicletas, menor o número de acidentes”.
Os motoristas vão se acostumar com os ciclistas, e estes, por sua vez, ficarão mais hábeis no trânsito. Para os ciclistas verdadeiramente urbanos, a própria bicicleta continuará sendo meio de transporte. Mas ele e ela também sairão ganhando com o programa de Delanoë porque, em parte, terão mais ciclovias e ouvirão menos palavrões dos motoristas de caminhonetes brancas (que parecem fazer curso de má-criação). No momento, apenas 40 mil, de 2,5 milhões de parisienses (região central), dizem usar bicicletas, mas o prefeito quer elevar o número para 250 mil.
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