sexta-feira, 21 de setembro de 2007

BICICLETA É POESIA

O meio da saudade

Porque a saudade é o meio do mundo.
E o meio do mundo é o teu coração.
O meio do mundo é teu ombro pequeno:
é o meio de mim em tua direção.

Porque a saudade é o cheiro do mundo.
E o cheiro do mundo é de manjericão.
O cheiro do mundo é uma flor na parede:
é o cheiro de ti em cada flor pelo chão.

Porque a saudade vem de onde moras.
E onde moras, morro eu de paixão.
Onde moras é um bom vinho guardado:
é a tua saliva que bebo com a mão.

Porque a saudade é o amor mais profundo.
E o amor mais profundo é de pedra-sabão.
O amor mais profundo é tua flor feminina:
é a flor do sexo de Zeus, o açafrão.

José Rocha

2 comentários:

Koun disse...

Muito bom! Aí vai outra para você:

ELOGIO BARROCO DA BICICLETA

Redescubro, contigo, o pedalar eufórico
pelo caminho que a seu tempo se desdobra,
reolhando os beirais - eu que era um teórico
do ar livre - e revendo o passarame à obra.
Avivento, contigo, o coração, já lânguido
das quatro soníferas redondas almofadas
sobre as quais me etangui e bocejei, num trânsito
de corpos em corrida, mas de almas paradas.
Ó ágil e frágil bicicleta andarilha,
ó tubular engonço, ó vaca e andorinha,
ó menina travessa da escola fugida,
ó possuída brincadeira, ó querida filha,
dá-me as asas - trrim! trrim! - pra que eu possa traçar
no quotidiano asfalto um oito exemplar !

Koun disse...

Faltou o autor: Alexandre O'Neill.