segunda-feira, 17 de setembro de 2007

ABSURDO!!


Metrópoles do mundo todo estão se preparando para o próximo dia 22, Dia Mundial Sem Carro, e ainda assim hoje, apenas a 10 dias dessa grande comemoração, sou obrigada a passar uma manhã na delegacia prestando queixa de ter sofrido discriminação e constrangimento por ser ciclista, além dos danos morais causados.
Dentre outras atribuições, sou professora de inglês, e tinha aula agendada para um novo aluno hoje às 7h45, e por morar a menos de 5km do local, optei por ir de bicicleta. Ele trabalha no edifício que fica no complexo do Shopping Villalobos, e prevendo alguns minutos de antecedência para poder estacionar a bicicleta no bicicletário e poder lavar o rosto antes de subir para a aula (sempre me planejo para não chegar ofegante aos lugares quando vou pedalando), cheguei por volta de 7h30 ao local. Mas eis que meu planejamento não adiantou em nada.
Após conversar com o segurança 1 – que me proibiu de estacionar em local de fácil acesso e sem empecilho algum ao trânsito local, fui encaminhada a conversar com o segurança 2 – que iniciou o questionamento sobre o porquê de eu estar lá de bicicleta, qual meu nome, onde eu ia, falar com quem, por quanto tempo, etc... (se eu já estivesse na recepção do edifício, ok, pois o papel de uma RECEPÇÃO é esse mesmo, mas pessoas que chegam de carro não passam pelo mesmo tratamento e questionamento ao cruzarem os seguranças do estacionamento para visitantes). Não obstante, o segurança 2 começa a pedir auxílio ao segurança 3 – que tampouco me liberou entrar e estacionar a bicicleta no único local permitido, por ser um bicicletário somente para funcionários e/ou pessoas com crachás de identificação, e então solicitou meu RG para verificar se eu realmente era uma visitante (imagino o que teria acontecido se aquela fosse a minha primeira vez no edifício).
Então iniciei meu discurso sobre eu estar sendo discriminada, pois eu já estivera presente àquele estacionamento outras duas vezes nos últimos 10 dias, ambas de Jeep (um meio de transporte muito mais perigoso e poluente que uma bicicleta, por isso de eu não dirigi-lo em todos os lugares que freqüento o tempo todo), e nada disso havia acontecido, meu RG não fora requisitado e nem visitante cadastrada eu era, somente pelo fato de chegar ao local de carro, e não de bicicleta, sendo o ticket de estacionamento (a ser retirado depois da barreira dos seguranças) a única requisição de identificação antes da recepção (se ninguém precisa digitar o RG para conseguir um ticket de estacionamento, por que não um procedimento similar para o uso dos bicicletários?).
Enfim, segurança 3 liga para a administração geral do prédio, que ainda assim não me autoriza, pois – repito – o único lugar permitido para bicicletas é o bicicletário de funcionários, e como eu não sou funcionária, não tenho o direito de utilizá-lo. Aparentemente a administração do edifício não se adequou à Lei XXXX/2007, que estabelece que qualquer estabelecimento comercial é obrigado a ter um bicicletário, sendo as bicicletas reconhecidas oficialmente como meios de transporte, podendo inclusive fazer uso comercial do mesmo (eu não me incomodaria em ter de pagar um estacionamento justo para guardar a bicicleta em local seguro).
Resumindo, eu – que chegara ao local por volta das 7h30, com compromisso marcado às 7h45, só fui, de fato, liberada a entrar no estacionamento às 8h04, e ainda tive de descer ao tal do bicicletário exclusivo junto ao segurança 4 – que foi de moto me guiando para eu não me perder em um trecho de uns 30m, em linha reta, para então prender a bicicleta com cadeado e seguir rumo à recepção (já eram 8h11...). Quando estava já entrando na portaria central do prédio, meu aluno, que sabia que eu estava lá embaixo passando por algumas dificuldades, me liga e “Desculpe, Luciana... mas já se passou meia-hora, acho que nem vale a pena termos aula hoje... fica só para a próxima semana...”. (Pausa para momento de indignação!)
Além de me discriminarem por não estar portando um veículo automotor; e de não seguirem a lei por não providenciarem um bicicletário para visitantes; e de terem me desrespeitado e constrangido por ser obrigada a ter de ser “aprovada” por 4 seguranças distintos, além da administração central; além disso tudo, ainda fui vítima de danos e perdas morais, pois minha aula foi cancelada e minha credibilidade como profissional abalada por um interferência externa e não justa!!!
Não tive dúvidas, segui rumo à delegacia, expliquei todo o caso, e fui orientada a – sim, entrar com um processo de pequenas causas com o pedido de indenização por constrangimento, perdas e danos morais, para que a administração do edifício arque com a responsabilidade e as conseqüências pelo ocorrido, mas como não creio totalmente na justiça desse país (vide descrições de fatos como os acima narrados...), resolvi escrever aos principais meios de comunicação, que por já me terem como cliente há bastante tempo, têm de mim admiração, respeito e confiança. Conto com a ajuda de vocês, agora, para poder divulgar o ocorrido, para que as devidas providências sejam tomadas, e com isso incitar que pessoas que tenham sofrido e/ou sofram em situações similares busquem seus direitos de cidadãs. Não há indignidade alguma em ir pedalando para o trabalho, muito pelo contrário, minha bike tem emissão zero de CO2, e só passei por tudo isso pela consciência de não ser necessário utilizar um veículo para um deslocamento tão pequeno... Mas mesmo quando estou dirigindo o Jeep, nada pequeno, ainda assim não fico assustando carros menores, como os carros fazem com os ciclistas geralmente...
Para finalizar, gostaria de deixar claro – pois prometi aos seguranças 2 e 3 que o faria – que todos os procedimentos de todos os seguranças envolvidos foram determinados pela administração central, tanto que o segurança 5 – que fica o tempo todo no bicicletário controlando entrada e saída de motos – me serviu de testemunha e agente para desabafo quando compartilhou já estar ansioso ao ouvir no rádio, nos últimos 40 minutos, a minha saga para chegar até ele. Assim, penso que se há algum responsável pela manhã atribulada que tive, e os prejuízos morais, sem dúvida é a administração central, e não os seguranças que me atenderam.
Grata pela atenção e apoio ao combate à falta de cidadania! Por favor, me ajudem a divulgar e impedir que os cidadãos ciclistas e conscientes percam seus empregos por chegarem atrasados devido ao “trânsito” do estacionamento!!!
Forte abraço, Luciana Telles( telleslu@gmail.com)

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